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Você já ouviu falar do canivete suíço? Esse é um objeto que foi criado para ser multifuncional, ou seja, ele possui diversas funções. O canivete suíço é um objeto relativamente pequeno, mas que reúne as funções de uma faca, tesoura, abridor de garrafas, lupa, saca-rolhas, gancho, agulha, abridor de latas e chave de fendas. Com essa infinidade de funções, o canivete suíço se tornou popular entre aqueles que gostam da praticidade de vários itens em apenas um produto só.

Mas por que estamos falando de canivetes suíços em uma aula sobre língua? Porque a linguagem de um modo geral, e isso inclui as línguas, são como canivetes suíços na medida que elas executam diversas funções. Você já parou para pensar na quantidade de funções que a língua tem? Antes de prosseguir a leitura, pare um minuto e tente imaginar para que usamos a linguagem.

 

A primeira função que geralmente vem à cabeça é a comunicação. Usamos a língua para passar informações. Se você ficou sabendo ontem que vai lançar um filme novo da Marvel este ano, você pode passar essa informação para o resto da sala falando “Vai lançar um filme novo da Marvel esse ano”. Essa função é muito importante, pois graças a ela, nós podemos transmitir conhecimento. Por exemplo, só sabemos hoje que a Terra gira em torno do Sol porque Copérnico não só descobriu esse fato, mas também decidiu passar essa informação para frente usando a função informativa. 

 

No entanto, a comunicação não é a única função da linguagem. Ela também nos ajuda a categorizar e perceber o mundo. Por exemplo, a nossa mente classifica verde e azul como cores diferentes e o fato de termos nomes diferentes para essas cores é um reflexo disso. Mas isso não ocorre em todas as línguas do mundo. Em algumas línguas indígenas brasileiras e também em algumas línguas asiáticas, há apenas um nome para o que chamamos ‘verde’ e ‘azul’. 

 

Usamos a língua também para tentar influenciar as pessoas ao nosso redor. Imagine um filho que chega em casa e diz “Mãe, meu celular está tão ruim que eu nem consigo responder suas mensagens”. A intenção desse filho seria simplesmente comunicar a mãe sobre o estado do celular ou será que ele teria outro interesse ao dizer essa sentença? Muito provavelmente, o filho estaria tentando convencer a mãe a comprar um novo aparelho para ele. Essa função de influenciar pessoas é bem conhecida pelas pessoas que elaboram propagandas, pois a todo momento tentam convencer as outras a comprarem certos produtos ou adquirir serviços.

 

Além disso, a nossa língua é capaz de falar de si mesma. Podemos falar que pato tem duas patas, mas também podemos falar que ‘pato’ tem duas sílabas. No primeiro caso, estaríamos nos referindo ao animal pato, enquanto que, no segundo caso, estaríamos nos referindo a palavra ‘pato’. Temos uma infinidade de termos, como ‘substantivo’, ‘adjetivo’, ‘objeto direto’, ‘oração subordinada’ e ‘adjunto adverbial’, que usamos para falar da nossa própria língua. Essa função, chamada de metalinguística, parece ser característica da espécie humana, na medida que os outros animais se comunicam, mas não conseguem falar sobre seu próprio sistema de comunicação como nós fazemos.

 

A linguagem também possui uma função puramente estética. Uma música como “Como nossos pais”, cantada por Elis Regina, pode transmitir uma mensagem contra a ditadura. Mas essa música faz mais do que isso. Ela é capaz de encantar que a ouve com as suas rimas e melodia. Muitas vezes, podemos ficar em dúvida qual mensagem uma música ou poema transmite, mas para o compositor, importa menos a mensagem e mais que o público ache a música boa ou o poema bonito. 

 

A linguagem serve também para a manutenção dos laços na nossa sociedade. Por exemplo, qual mensagem transmitimos quando desejamos “Bom dia!” para um conhecido ao encontra-lo na rua? E o que ele quer dizer quando responde com outro “Bom dia!”? Nesse caso, o que fazemos não é apenas desejar um bom dia, mas mostrar para a pessoa que ela faz parte do nosso círculo de conhecidos e que desejamos ter uma relação cordial.

 

A linguagem também nos permite agir sobre o mundo. Há certas ações que só são possíveis por meio da linguagem. Por exemplo, você pode executar várias ações em silêncio como sentar, levantar, correr. Mas tente prometer sem falar nada. Ou ainda jurar sem falar nada. Ações como a promessa e o juramento só são possíveis por meio da linguagem.

 

Como um canivete suíço, a linguagem é algo multifuncional. Podemos perceber e categorizar o mundo, transmitir informações para os outros, aprendendo com os erros e acertos de outros seres humanos, influenciar ou encantar uns aos outros e estreitar os laços que temos. E essa maleabilidade é essencial para o progresso da nossa sociedade.

Texto de Luiz Fernando Ferreira e Maria Eugênia Martins Barcellos
Junho de 2022

A língua é como um canivete suíço

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