Você já parou para pensar o que é um sistema? Quando unidades se organizam seguindo certas regras, podemos dizer que há um sistema. Há vários deles que são de interesse para as diversas ciências. Por exemplo, a astronomia estuda o sistema solar. O sol, os planetas, os satélites são as unidades que formam esse sistema. Ao observá-lo, podemos descrever as regras que o regem, como o movimento dos planetas ao redor do sol e o movimento dos satélites ao redor dos planetas. Outro exemplo é a biologia, que estuda diversos sistemas dos organismos dos seres vivos, como o circulatório, respiratório, digestivo etc. Os órgãos são as unidades que compõem tais sistemas.

 

A linguística também é uma ciência e seu objeto de estudo são as línguas. O interessante é que as línguas também se comportam como sistemas. Mas quais seriam as unidades do sistema? As línguas associam uma forma a um conceito. Por exemplo, uma palavra como ‘cachorro’ tem uma forma sonora. Pense nos sons que você emite ao falar a palavra ‘cachorro’. Essa forma sonora que vem na sua cabeça está associada a um conceito que é daquele animal de estimação que tem quatro patas e abana o rabo quando vê o tutor. Essa associação entre forma sonora e conceito é chamada de signo linguístico. 

 

Não há nada que defina que uma forma deva estar associada a um conceito. Por exemplo, no português, o conceito de ‘cachorro’ está associado à forma que é a pronúncia que você imagina quando pensa nessa palavra. No entanto, no inglês, esse mesmo conceito está associado a outra forma. Pense no som que você faz quando diz a palavra ‘dog’. É a essa forma que os falantes de inglês associam a palavra ‘cachorro’. Por outro lado, os falantes do espanhol associam esse mesmo conceito ao som mental da palavra ‘perro’. Por esse motivo, dizemos que o signo é arbitrário, ou seja, não há nenhuma regra que determina quais sons devemos pensar quando empregamos um certo conceito. 

 

Os signos são as unidades desse sistema que é a língua. O estudo de um sistema deve levar em conta a relação que essas unidades estabelecem entre si. Voltando ao nosso exemplo anterior do sistema solar, sabemos que o sol é uma bola de gás formada principalmente por hidrogênio e que os planetas são objetos rochosos ou gasosos que dão voltas em torno do sol, pois estão presos pela sua gravidade. No sistema que é a nossa língua, o conjunto de regras que o regem é chamado de gramática.

 

A nossa comunicação só é possível, pois nós, os falantes de português brasileiro, concordamos com quais regras seguir quando usamos a língua. Por exemplo, todos os falantes do português, ao ouvir uma sentença como “o lobo atacou a chapeuzinho”, sabem que o lobo faz a ação de atacar e a chapeuzinho é quem está sendo atacada. Isso porque a regra que seguimos diz que aquele que realiza a ação vem antes do verbo e aquele que sofre a ação vem depois do verbo.

 

Toda a comunidade de falantes de uma língua mantém um acordo implícito dos elementos que fazem parte de sua língua e das regras que devem usar na estruturação e organização desses elementos. Por exemplo, primeiramente os falantes de português começaram a se referir aos veículos de duas rodas com motor como ‘motocicleta’. Entretanto, depois, esse veículo passou a ser conhecido como ‘moto’. Ou seja, os falantes passaram a aceitar uma outra forma para se referir ao mesmo objeto. 

 

O sistema solar está dentro da via láctea. O sistema circulatório está dentro dos organizamos de certos seres vivos. Onde estaria o sistema que é a língua? Ele é guardado pelos membros da comunidade de falantes. Sendo assim, esse sistema depende desses membros. Se os membros mudam as regras ou substituem alguma das unidades do sistema, o sistema muda. Por esse motivo, dizemos que a língua é um objeto social, ou seja, que está na mente dos falantes.

As pessoas usam esse sistema para falar, mas uma coisa que não podemos confundir é a língua com a fala. Quando Carlos Drummond de Andrade diz “Tinha uma pedra no meio do caminho”, não podemos dizer que isso é uma língua, mas uma fala. A fala está presente na boca dos membros da comunidade, ou seja, quando os membros usam a língua para se comunicar, aquilo constitui a fala. A língua é algo maior que a fala, pois é um sistema que reúne todos os elementos integrantes do sistema e as regras para estruturar esses elementos. Na relação entre fala e língua, a primeira depende da segunda, ou seja, a gente só consegue falar porque temos uma língua. No entanto, só enxergamos a língua na fala, ou seja, só constatamos a existência de uma língua quando as pessoas fazem uso dela.